Guardar Rancor e Estourar de Raiva
Guardar Rancor e Estourar de Raiva
Guardar Rancor e Estourar de Raiva
por joão carlos c.dos santos
Uma senhora escreveu para um escritor de um jornal com os sentimentos feridos. Ela tinha sido convidada para jantar na casa do filho pela primeira vez após o casamento, e sentou-se à esquerda dele, enquanto a mãe da esposa se sentou à sua direita, contrariando as regras da etiqueta. Ela pretendia nunca mais retornar à casa do filho.
Se eu fosse o filho, provavelmente me teria sentido culpado exatamente por essa falha de etiqueta, não porque eu pretendesse insultar minha mãe e honrar minha sogra, mas porque ignoro completamente as sutilezas das finezas sociais.
Será que nós, como cristãos, guardamos mágoa contra outras pessoas por negligências reais ou imaginárias? Se aquela mãe cumpre a promessa de nunca mais visitar o filho, haverá inimizade entre eles e uma fila de simpatizantes de um lado ou de outro que podem nem saber o que ocasionou a inimizade.
Dessas pequenas coisas advêm as divisões e as facções na igreja. Paulo disse que o ódio ("inimizades" na Revista e Atualizada) é uma obra da carne. Barnes afirmou o seguinte a respeito da palavra ódio em seu comentário sobre 2 Coríntios e Gálatas: "No grego, ódios, no plural. Antipatias, falta de amor, produzindo contendas e dissensões" (p. 383).
Esta palavra é o oposto de agape (amor). Podemos ter algum entendimento dessa obra da carne quando entendemos o fruto do Espírito que se lhe opõe, o amor, como revela Mateus 22:39, Romanos 3:10 e Mateus 7:12. Amamos o próximo como a nós mesmos quando não causamos mal a ele e não lhe fazemos nada que ele não quer.
O ódio é vingativo, retaliatório, produzindo rancor e mágoa em relação às outras pessoas. Além de causar dano às outras pessoas, é prejudicial para aquele que o nutre no coração. Torna-o amargurado e o corrói por dentro. Praticar essa obra da carne é possuir as qualidades que produzem inimigos. Podemos ter inimigos, mas eles não podem surgir por causa da nossa malfeitoria. Paulo disse: "Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens" (Romanos 12:18).
As seitas e as facções brotam das inimizades. Os problemas nas congregações muitas vezes se atribuem a "conflitos de personalidade". Fico pensando se não seria melhor dizer "inimizades".
Dizemos que alguém estourou quando perde o controle. O ferro de um martelo ou de um machado escapando do cabo pode causar muito prejuízo (veja Deuteronômio 19:5). Iras significa ira acalorada ou paixão, surtos ou ataques de raiva. Essa obra da carne é perigosa para os cristãos como o é o cabo solto do machado numa floresta cheia de homens trabalhando.
Nos ataques de raiva, a língua se solta e as coisas são ditas sem que se possa voltar atrás. Tiago compara a língua ao fogo, do qual uma só faísca pode causar um grande incêndio (Tiago 3:5-6). Quem se ira com facilidade age tolamente, atiça a contenda e transborda na transgressão (Provérbios 14:17; 29:22). "Cruel é o furor, e impetuosa, a ira" (Provérbios 27:4). O presbítero não deve ser rápido em irar-se, nem ser dado a brigas (1 Timóteo 3:3; Tito 1:7).
Algumas pessoas se orgulham de ser iracíveis, achando que isso denota resistência ou força, mas o escritor de Provérbios afirmou: "Melhor é o langânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade" (Provérbios 16:32). Outros justificam os seus acessos de raiva dizendo: "Eu sou assim mesmo, nasci desse jeito", passando a culpa para Deus, que os fez, os para os antepassados de quem pensam ter herdado esse traço. Mas podemos controlar-nos. Devemos despojar-nos da ira (Colossenses 3:8). Não nos seria mandado fazer algo de que não fôssemos capazes.
As obras da carne e o fruto do Espírito não se combinam. Não é possível produzirmos o fruto do amor e ao mesmo tempo nutrir inimizades no coração, e não podemos exercer o domínio próprio, um fruto do Espírito, e ter acessos de raiva; mas o amor, fruto do Espírito, eliminará as inimizades, e o domínio próprio nos impedirá de "estourar".
Os bebês em Cristo que, antes de ser filhos de Deus, eram culpados de inimizades e de iras, podem experimentar problemas com elas. Nós que já somos crescidos não. Já devem ter sido eliminadas. Os cristãos jovens devem crescer nisso bem como em outras áreas. Antes de relacionar as obras da carne e o fruto do Espírito, Paulo disse: "Andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne" (Gálatas 5:16). A palavra escondida no coração nos impedirá de pec ar (Salmos 119:11).
Alguém que por um instante fracasse na questão das inimizades e da ira pode encontrar o perdão de Deus por meio do arrependimento, da confissão e da oração.